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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Por que promover a Igualdade Sócio-racial?

Campos dos Goytacazes, é marcada pelo seu contexto sócio-histórico de construção das hierarquias sociais através da utilização de mão-de-obra escrava, ora do índio – nativo das terras colonizadas no séc. XVI – ora do negro, que por três séculos viveu sob regime de escravidão – após ter sido retirado de diversas tribos africanas que tiveram suas relações sociais de uma tribo para com a outra modificadas) –, e que teve por consequência a segregação racial do negro.
Mesmo liberta após 13 de maio de 1888, a população negra ainda sofre com as amarras sociais vividas e, que não legitimam os princípios de democracia e cidadania hoje existentes, após Constituição de 1988. Isto é, a relação polarizada senhor-escravo – presente inclusive em todas as relações sociais na forma de produção escravista – permanece, embora refuncionalizada pelo novo contexto social. É importante ressaltar que, além do regime de trabalho escravocrata marcou a cidade, nos engenhos e nas grandes que usinas – gerando o chamado “ouro doce” a época –, em todo Brasil teve entrada das teorias raciais advindas da Europa e que legitimaram a idéia de superioridade do branco em detrimento do negro[1].
Assim, ainda nos dias atuais a população negra reside em territórios mais carentes de políticas públicas que assegurem os direitos sociais[2], essenciais para o exercício da cidadania. Os jovens negros têm morrido violentamente em maior quantidade que os jovens não negros, o que nos faz perceber que a questão racial está intrisicamente ligada à violência letal do Brasil. Os negros tem renda inferior aos brancos, e este dado se agrava ainda mais no caso das mulheres negras. Os tipos de ocupação da população negra no mercado de trabalho são, em sua maioria, precarizadas e com pouco prestígio social, considerando também que esta população possui índice de escolaridade inferior ao do não-negro e este indicador dificultar o alcance certos cargos. Na educação, o tempo de escola e a qualidade da educação da população negra são inferiores da população não negra; o índice de analfabetismo e analfabetismo funcional também acometem mais os negros; a média de anos de estudo é menor na população negra tal como no ensino superior os dados subsiste.
Na Secretaria Municipal da Família e Assistência Social, em 2012, foi criado o Programa de Apoio a Igualdade Racial onde, o principal objetivo é combater os riscos sociais que sobre eles incidam – considerando-os como violação de direitos –, e 
Combater as vulnerabilidades[3] em suas várias faces explícitas na sociedade campista, entre tantas estão: o racismo em todos os níveis, o preconceito em todos sentidos e as demais formas de intolerância;  E inclusive, em âmbito nacional a Secretaria Especializada em Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR-PR) realizou diversas articulações com o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) na certeza de que a população que sofre tais condições (e que tem raízes históricas) é a população negra. A Política de Assistência Social, após Constituição de 1988 onde foi incluída no tripé da Seguridade Social, e tem por função concretizar direitos sociais e incluir as camadas mais vulneráveis da população com interesse na emancipação e protagonismo de cada cidadão.
Em Campos dos Goytacazes, esta situação de vulnerabilidade pode ser comprovada pelo cadastro único para programas sociais do governo federal, onde a maioria dos inscritos são negros. Como os profissionais e/ou gestores podem intervir na realidade dos munícipes garantindo o acesso a direitos se não conhece a realidade na qual a maioria da população está imersa?
Embora, na atualidade, o governo brasileiro tenha dado visibilidade à questão racial, com a implantação das políticas afirmativas[4], observa-se que a política de assistência social não tem acompanhado essa conjuntura, uma vez que secundariza sua atenção a essa questão. Em Campos dos Goytacazes/RJ, segunda cidade em densidade com maioria da população negra (sendo superada apenas por Salvador/BA) o tema de Igualdade Sócio-racial é negligenciado.
As políticas de promoção da igualdade racial, de que tratamos aqui, devem ser vistas de forma transversal pois promover a igualdade racial é um dever de todos, ou seja, ser dada à questão a atenção específica em todas as políticas universais, a fazer com que estas políticas e os direitos sociais inerentes a ela sejam complementares. Na educação – conforme está alocada a antiga Fundação Zumbi dos Palmares e atual Superintendência Municipal de Igualdade Racial – a atenção a promoção da igualdade racial é necessária, entretanto, insuficiente se realizada unicamente haja vista que, a implementação das leis 10.639/03 e 11.645/08 (não operacionalizada pela instituição) e, cursos[5] oferecidos pela SMIR atende apenas uma das vertentes da vida do negro munícipe. Já na saúde, há um atendimento específico a doença de anemia falciforme que acomete a população negra.
Uma vez que, não há no município a existência de uma Secretaria Municipal Especializada em Promoção da Igualdade Racial, com a devida autonomia que lhe cabe, há a imensa necessidade de uma equipe técnica voltada às questões raciais se fazer presente na política de Direitos Humanos e assistência social por razões já explicitadas no corpo deste texto. Promover a Igualdade Racial é reconhecer os Direitos Humanos e a cidadania a que esta população específica carece.


Texto:
Gilberto Firmino Coutinho Junior (totinho)
Manuelli Batista Ramos




[1] Atualmente, séc. XXI, considera-se por população negra o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga. (ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL, 2010, p. 8) e que são 51,1 % da população.

[2] Do acesso a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados Contidos no Art 6º da Constituição Federal de 1988.

[3] Como o descrito na Política Nacional da Assistência Social (PNAS): “um conjunto de pessoas em situação de risco, tal como domicílio com infra estrutura inadequada, famílias com renda per capita inferior a um quarto de salário mínimo, famílias com mulher como chefe, sem companheiro, analfabeta e com filhos menores de 15 anos, famílias com pessoas maiores de 16 anos desempregadas e com menos de quatro anos de estudo, famílias com renda per capita menor que meio salário mínimo e pessoas com deficiência.”

[4] As políticas de ações afirmativas são medidas especiais adotadas pelo Estado e pela iniciativa privada para correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades (ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL, 2010, p. 9)

[5] Os cursos oferecidos pela instituição SMIR são pré-vestibular e de idiomas (inglês e espanhol), entretanto, como não possuem autonomia, inclusive financeira, os cursos são constantemente interrompidos na sua execução, sendo dado apenas atenção as manifestações carnavalescas da cidade. Vale ressaltar que os critérios de adesão nos cursos oferecido por esta instituição não obedece aos quesitos raciais.

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