Foi o escritor francês Albert Camus quem disse que “sem a
cultura, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva”. O
sociólogo e ativista de direitos humanos Herbert de Souza, o Betinho, afirmou
que “um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência;
muda, sim, pela sua cultura”. Os textos judaicos, por sua vez, já
imortalizaram: “Mais cultura, mais vida”. E o que está acontecendo com os
prédios onde funcionam o Palácio da Cultura e o Museu Olavo Cardoso, e com o
funcionamento do Arquivo Público Municipal de Campos, representa um suicídio de
uma comunidade, segundo a historiadora Sylvia Paes, que integra o Instituto
Histórico e Geográfico de Campos. A cultura, na cidade do petróleo, vem
passando por um sucateamento, e quem estaria assinando isso é o governo
municipal.
A questão das obras do Palácio e do Museu Olavo Cardoso e do
funcionamento do Arquivo foi abordada nesta semana pelo blog Luciana Portinho,
da Folha Online. A Folha Dois solicitou, via e-mail, informações à Secretaria
de Comunicação Social de Campos sobre o prazo para entrega das obras que foram
iniciadas nos prédios onde funcionam o Palácio da Cultura (na entrada da
Pelinca) e o Museu Olavo Cardoso (na Avenida Sete de Setembro), e sobre o prazo
para o Arquivo Público ter restabelecido seu processo normal de funcionamento
(o espaço está funcionando em apenas três dias da semana, com menos quatro
funcionários e atendendo a apenas pesquisadores — e não à comunidade em geral).
Mas, a Secretaria de Comunicação Social não deu nenhum retorno ao jornal, sobre
tais prazos, até o fechamento desta edição, às 16h de quarta-feira (11).
As obras que foram iniciadas no prédio do Palácio da Cultura
custam R$ 2.739.912,96. No final do ano passado, a Secretaria Municipal de
Obras, Urbanismo e Infraestrutura de Campos havia informado que a previsão é de
que o prédio, todo reformado, fosse entregue à população no próximo mês de
maio.
A redução do número de funcionários do Arquivo Público
Municipal e o atraso na entrega das obras nos prédios do Palácio e do Museu
Olavo Cardoso seriam umas das consequências dos cortes de gastos anunciados
pela Prefeitura Municipal de Campos diante à queda do preço do barril de
petróleo.
O panorama de sucateamento da cultura municipal é formado
também por outros fatos: o governo municipal reduziu a verba anual do Fundo
Municipal de Cultura (que, neste 2015, é de apenas R$ 116 mil, e foi de R$ 176
mil em 2014) e a Câmara Municipal de Campos negou a proposta da destinação de
R$ 1.146.723,42 para o Fundo Municipal de Cultura, feita, em dezembro de 2014,
pelo vereador Rafael Diniz (PPS) e outros nomes da bancada de oposição ao
governo. Ao mesmo tempo em que há quem afirme que a cultura sofra um reflexo
dos cortes de gastos, o governo realizou, após o anúncio dos cortes, shows
caros em Farol de São Thomé, como o show de Munhoz e Mariano, cujo cachê custou
aos cofres R$143 mil, um valor maior que todo o dinheiro do Fundo para 2015.
A questão da demora na
entrega das obras do Palácio e do Museu, a mudança do funcionamento do Arquivo
Público e, também, a redução do número de funcionários que foi feita no Museu
Histórico de Campos são não apenas um crime de omissão, mas um suicídio. As
leis de patrimônio e o plano diretor não estão sendo cumpridos e nós estamos
sendo polidos no consumo e na produção culturais. O tempo anda para frente e
nós caminhamos com ele. Se a gente pára, se somos limitados na produção e no
consumo da cultura, as novas gerações não vão saber o que fizemos de novo, o
que foi feito quando estivemos aqui. Nós, campistas, não estamos deixando uma
marca do nosso tempo — comentou Sylvia Paes.
Fonte: Folha da Manhã
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