Professor foge do simplismo para discorrer sobre corrupção e
manifestações, ao vivo, na Rede Globo. Ao dispensar o script da moralidade
seletiva e tratar os meandros da política profissional com racionalidade, Vitor
Amorim incomodou a emissora
Casos de convidados da Rede Globo que fogem do script da
emissora para tratar de temas delicados não são comuns – previamente
selecionados, os convidados, normalmente, reforçam os posicionamentos da maior
rede de TV da América Latina. O mais recente caso de fuga de script aconteceu
no Bom Dia ES, programa de afiliada da Globo no Espírito Santo exibido pela
manhã [vídeo acima].
O professor Vitor Amorim de Angelo foi confrontado, ao vivo,
com temas que envolviam desde a corrupção na Petrobras até as manifestações do
último dia 15/03. Abriu mão do simplismo e teve a ousadia de discordar de
Míriam Leitão – jornalista referência na emissora – quando questionado sobre a
possível participação de eleitores de Dilma nos protestos pró-impeachment.
CURRUPÇÃO
“A corrupção é um
problema complexo e, como tal, merece ser tratada com complexidade […] atinge
todas as esferas do poder: Executivo, Legislativo, setor público e setor
privado”, disse Vitor, causando algum desconforto em um apresentador que
carregava consigo a missão de reforçar maniqueísmos políticos e responsabilizar
um único partido por tudo de ruim que há no Brasil.
O acadêmico destacou ainda a importância das manifestações populares,
mas mandou um recado para aqueles que nutrem uma sanha golpista: “A democracia
é um regime de confiança, não de adesão. Portanto, não é uma opção aderir ou
não ao resultado. Você faz parte desse sistema político no qual ela é
presidente. O inverso também é verdadeiro: você venceu, mas não pode deixar de
governar para aqueles que não te elegeram”.
Ao dispensar o script da moralidade seletiva e tratar os
meandros da política profissional com racionalidade, Vitor Amorim incomodou a
Rede Globo.
*Vitor Amorim de Angelo é professor de Sociologia, formado em
História, com mestrado e doutorado em Ciência Política, membro do Laboratório
de Estudos de História Política e das Ideias, com passagem pelo Centre
d’Histoire do Institut d’Études Politiques de Paris (SciencesPo) e pesquisador
do Institut des Sciences Sociales du Politique da Université de Paris
Ouest-Nanterre La Défense.
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