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sexta-feira, 13 de março de 2015

Cultura de sucateamento

Foi o escritor francês Albert Camus quem disse que “sem a cultura, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva”. O sociólogo e ativista de direitos humanos Herbert de Souza, o Betinho, afirmou que “um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda, sim, pela sua cultura”. Os textos judaicos, por sua vez, já imortalizaram: “Mais cultura, mais vida”. E o que está acontecendo com os prédios onde funcionam o Palácio da Cultura e o Museu Olavo Cardoso, e com o funcionamento do Arquivo Público Municipal de Campos, representa um suicídio de uma comunidade, segundo a historiadora Sylvia Paes, que integra o Instituto Histórico e Geográfico de Campos. A cultura, na cidade do petróleo, vem passando por um sucateamento, e quem estaria assinando isso é o governo municipal.

A questão das obras do Palácio e do Museu Olavo Cardoso e do funcionamento do Arquivo foi abordada nesta semana pelo blog Luciana Portinho, da Folha Online. A Folha Dois solicitou, via e-mail, informações à Secretaria de Comunicação Social de Campos sobre o prazo para entrega das obras que foram iniciadas nos prédios onde funcionam o Palácio da Cultura (na entrada da Pelinca) e o Museu Olavo Cardoso (na Avenida Sete de Setembro), e sobre o prazo para o Arquivo Público ter restabelecido seu processo normal de funcionamento (o espaço está funcionando em apenas três dias da semana, com menos quatro funcionários e atendendo a apenas pesquisadores — e não à comunidade em geral). Mas, a Secretaria de Comunicação Social não deu nenhum retorno ao jornal, sobre tais prazos, até o fechamento desta edição, às 16h de quarta-feira (11).

As obras que foram iniciadas no prédio do Palácio da Cultura custam R$ 2.739.912,96. No final do ano passado, a Secretaria Municipal de Obras, Urbanismo e Infraestrutura de Campos havia informado que a previsão é de que o prédio, todo reformado, fosse entregue à população no próximo mês de maio.

A redução do número de funcionários do Arquivo Público Municipal e o atraso na entrega das obras nos prédios do Palácio e do Museu Olavo Cardoso seriam umas das consequências dos cortes de gastos anunciados pela Prefeitura Municipal de Campos diante à queda do preço do barril de petróleo. 

O panorama de sucateamento da cultura municipal é formado também por outros fatos: o governo municipal reduziu a verba anual do Fundo Municipal de Cultura (que, neste 2015, é de apenas R$ 116 mil, e foi de R$ 176 mil em 2014) e a Câmara Municipal de Campos negou a proposta da destinação de R$ 1.146.723,42 para o Fundo Municipal de Cultura, feita, em dezembro de 2014, pelo vereador Rafael Diniz (PPS) e outros nomes da bancada de oposição ao governo. Ao mesmo tempo em que há quem afirme que a cultura sofra um reflexo dos cortes de gastos, o governo realizou, após o anúncio dos cortes, shows caros em Farol de São Thomé, como o show de Munhoz e Mariano, cujo cachê custou aos cofres R$143 mil, um valor maior que todo o dinheiro do Fundo para 2015.


 A questão da demora na entrega das obras do Palácio e do Museu, a mudança do funcionamento do Arquivo Público e, também, a redução do número de funcionários que foi feita no Museu Histórico de Campos são não apenas um crime de omissão, mas um suicídio. As leis de patrimônio e o plano diretor não estão sendo cumpridos e nós estamos sendo polidos no consumo e na produção culturais. O tempo anda para frente e nós caminhamos com ele. Se a gente pára, se somos limitados na produção e no consumo da cultura, as novas gerações não vão saber o que fizemos de novo, o que foi feito quando estivemos aqui. Nós, campistas, não estamos deixando uma marca do nosso tempo — comentou Sylvia Paes.

Fonte: Folha da Manhã

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